MÉDICO RECEITA "VODKA ORLOFF", PARA BEBÊ DE SEIS MESES, FILHO DE AGENTE DE SAÚDE.
Receita escrita pelo médico, Reprodução.
Um médico da cidade de Aracruz, no interior de Vitória-ES, orientou que
fossem utilizadas gotas de vodca na nebulização de um bebê. A orientação
foi prescrita a pelo menos duas pacientes, num formulário oficial do
Hospital e Maternidade São Camilo, que é filantrópico e atende a
pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Uma das mães é a agente de saúde Luana Tomaz, de 22 anos, mãe de
um bebê de seis meses. O filho dela começou a passar mal no início
desta semana, com quadro de tosse, secreção e suspeita de pneumonia. A
criança foi levada ao hospital e atendida pelo médico Luiz Alexandrino
Alves, que recomendou nebulização com vodca.
Na receita, ele indica que a bebida deveria ser dosada com outras
medicações - entre elas Berotec, soro e Atrovent - e usada no
procedimento de nebulização da criança a cada seis horas, pelo período
de sete dias. A consulta transcorreu normalmente e a mãe só se
surpreendeu quando chegou à farmácia para comprar os remédios.
- O farmacêutico disse que não tinha o que eu estava pedindo, pois era
vodca de supermercado. Não acreditei quando ouvi isso - disse Luana, que
fez a consulta pelo SUS.
A indignação ganhou as redes sociais quando Luana postou o caso no
Facebook. Em seguida, ela descobriu que uma amiga, Joyce Silva, que é
mãe de um bebê de um mês, também havia passado pela mesma situação. As
duas mulheres contrataram uma advogada e alegam que, antes de prescrever
as receitas, o médico ainda "brincou" com elas.
- Ele me perguntou se eu conhecia um remedinho chamado vodca. Falei que
não e ele me respondeu, surpreso, 'mas eu só estou falando de vodca de
supermercado'. Na hora, achei que ele estivesse brincando comigo, nunca
pensei que fosse receitar isso para o meu filho - disse Luana.
A situação pode parecer estranha, mas pediatras especialistas em doenças
respiratórias ouvidos pelo GLOBO esclarecem que há muito tempo, por
falta de recursos terapêuticos, os médicos usavam a vodca para
desidratar as secreções nos tratamentos de asma e bronquite. Entretanto,
eles afirmam que isso já foi abolido, pois existem outros medicamentos
comprovadamente mais eficazes.
O Hospital e Maternidade São Camilo informou que pediu um parecer da
Sociedade Brasileira de Pneumologia (SBP) para saber se existe alguma
contraindicação do uso de medicamentos aliados a vodca. Só depois de
receber o documento, o hospital vai decidir o que fazer em relação ao
caso.
- A prescrição ocorreu, mas ainda estamos apurando os fatos. O que temos
até agora é uma pessoa que não possui conhecimento técnico relatando
algo feito por uma pessoa que tem conhecimento técnico - informou o
gerente executivo do hospital, Clemário Angeli.
Ele explicou ainda que o hospital não pode interferir em ‘hipótese
alguma’ na conduta dos médicos e que eles são os responsáveis exclusivos
de seus atos clínicos. Por enquanto, o médico Luiz Alexandrino Alves,
que atua no hospital há quase um ano, continua atendendo normalmente.
Ele foi procurado, mas ainda não foi localizado.
O Conselho Regional de Medicina informou que só pode investigar o caso se as mães fizeram uma denúncia no órgão.
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